segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Transamazônica: 40 anos de poeira na direção do nada

 por Leonardo Dias
 Rodovia Transamazônica / (Foto: Araquém Alcántara - publicada na Veja).

Difícil acreditar que em pleno século XXI o progresso não tenha chegado em regiões do Norte e Nordeste brasileiro. Afinal de contas, o bordão “ordem e progresso” está estampado na bandeira da República Federativa do Brasil. Uma pura ironia para com milhares de brasileiros que residem às margens da terceira maior rodovia do país, a BR-230, popularmente conhecida como ‘Transamazônica’. Residentes que há mais de 40 anos, sonham por dias melhores, apenas convivem com promessas fajutas de políticos nos períodos que antecedem as eleições.

A Rodovia Transamazônica corta sete estados brasileiros (Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas), num percurso de mais de 4 mil quilômetros de extensão. De fato, assim como a floresta Amazônica, a rodovia continuará sem que o permita conduzir o progresso. O asfalto completo da rodovia está previsto para ser feito em três grandes etapas. Ao todo, a obra vai custar R$ 2,3 bilhões aos cofres públicos. Isso significa que a cada quilômetro de asfalto sairá por R$ 1 milhão. É caro, mas é o preço para ser pago por duas décadas de equívocos e falta de planejamento.

Trafegar pela estrada que liga o nada a coisa alguma, é se deparar com um verdadeiro descaso. O asfalto só existe em trechos esparsos e a sinalização é um luxo inexistente. Uma verdadeira cicatriz no meio da selva e um monumento à cegueira ambiental das gerações passadas a lama, que são marcadas por dois distintos impostos da natureza, o verão e o inverno.

O fato é que a Transamazônica foi criada sem planejamento e construída a toque de caixa durante a ditadura militar. Passados os anos a rodovia não conseguiu alcançar o seu principal objetivo: ligar o Brasil ao Peru, facilitando, desse modo, o escoamento de produtos entre os países.  Como se isso não bastasse, a taxa de analfabetismo cresce em disparada na região, e já é considerada duas vezes maior que a média nacional. E os problemas não param por aí, 66% das 1,2 milhão de pessoas que residem na Amazônia Legal, não possuem água encanada e 27% não têm instalações sanitárias.

Paralelo a isso, cresce também o número de políticos envolvidos na corrupção, uma problemática recorrente do Brasil, que nem mesmo as inúmeras manifestações populares que ocorreram em todo o país no mês de junho conseguiram derrubar a imagem de uma nação de injustiça. O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva bem que tentou, mas não conseguiu por em prática o edital referente à implantação de quase mil quilômetros de pavimentação do trecho pertencente ao Pará.

Mas o que fazer em uma área cortada pela Transamazônica, em que até os primeiros moradores da região, que foram festejados como exploradores de um novo eldorado, acabaram surpreendidos com a evidência de que quase 90% das terras em torno da estrada eram inférteis para a agricultura? Isso leva a crer que se até em tempos atrás nem aos exploradores interessavam a terra, imagina ao governo federal que em tempos atuais está com todas as suas atenções voltadas para a exploração do pré-sal e o processo de Libras do petróleo.

Certamente os tapajós e marabás continuarão sonhando com dias melhores, ou até mesmo terão que conviver com a esperança, já que estão cercados de verde, cor símbolo de sua etnia. Tudo leva a crer, que caso as obras da Rodovia Transamazônica venham mesmo a ser finalizadas, o tão sonhado progresso chegue juntamente com a estreita relação do Peru. País este, que demonstra ter um maior interesse na região. E quem sabe até um dia, possa explorá-la, ela que é marcada de sonhos e incertezas, fazendo o que há mais de quatro décadas, o Brasil não conseguiu fazer.

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